Inquieta e, até, incomodada com algumas discussões no mestrado. Em minha percepção, estávamos nos dirigidindo para um entendimento de relativismo extremo. Uma frase que bastante me marcou, e que acho que sintetiza de certa forma a idéia base comum foi a de que sempre que se fala em moral, cada um toma seus próprios valores como os representantes e tradudores dessa Moral. Creio que esse pensamento reforça a fragmentação em que hoje estamos imersos, a falta de projetos, de esperanças, de utopias; a resignação num presente desprovido de sentido; como diria Boaventura (e que, acabo de descobrir, guarda muita semelhança com Ost), arrastados pelo apelo do progresso para um futuro indefinido e amorfo e sem ter fincado raízes no passado repleto de injustiças, abandonando aqueles que não acompanham o trem da história.
A leitura de Maturana proporcionou-me o esclarecimento de minhas dúvidas (no sentido de que elas ficaram mais claras, e não que eu tenha chegado soluções para elas). Ao tratar de teoria do conhecimento, de como se dá o conhecer, Maturana fala de uma forma ontológica transcendente de conhecer, é dizer, tomando por base critérios ontológicos trancedentes rígidos para distinguir a verdade da não-verdade, a realidade da não-realidade. Por outro lado, defende uma forma ontológica constitutiva de conhecer, ou seja, cada ser humano conhece a partir de sua experiência de viver, resultando numa pluralidade de realidades (em muitas verdades).
De sua conclusão ele tira um direcionamento ético: ao invés de explicações que se negam mutuamente, teríamos entendimentos de verdades que devem conviver de forma solidária e amorosa. Assim, Maturana também fragmenta a realidade, mas essa fragmentação não é amórfica como a que está implantada hoje, é uma fragmentação em forma de mosaico, é dizer, em seu conjunto, as partes formam figuras que expressam algo, que dão sentido.
É de Maturana também que tiro o esclarecimento do meu receio perante os posicionamentos fragmentários-amórficos: se todo saber está inexoravelmente ligado a um agir (e acredito nisso há muito), seja porque ao conhecer, o observador constitui seu objeto, seja porque o saber por ele adotado lhe servirá de fundamento para seu agir, aonde nos leva esses direcionamentos? A idéia de uma Academia asséptica, de uma pesquisa sem fins e sem fé vem me parecendo evidente e uníssona, e me questiono, será isso mesmo? Não sei até que ponto teimo em ser ingênua, mas para mim não se trata de mero título ou de páginas escritas a que se dá o nome de dissertação. Ao entrar no programa de pós graduação estou agindo no mundo e devo a mim e aos demais posicionamentos. Por certo que minha dissertação não acabará com a miséria ou injustiça da face da terra, mas ao menos o meu agir ela irá conduzir (ou melhor contribuir na condução).
Não fecho nada. Talvez esteja sendo meramente platônica e metafísica, sem conseguir me desvencilhar da tradição ontológica (como me parece é o caso do próprio Maturana, inclusive de forma explícita – “ontológico constitutivo). Questões, meramente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário