domingo, 24 de agosto de 2008

Ó Linda e a literatura de Cláudio Aguiar


Já ando sem mapa pelas ruas de Olinda. Já sei onde ficam suas igrejas - algumas claro - onde saltar, onde pegar o ônibus, de que lugar do alto da Sé a vista é mais bela.

Assisti a missa em canto gregoriano do mosteiro de São Bento: todo domingo 10:00. Depois subi até a Sé e comi meu primeiro acarajé não baiano em toda a vida. O vatapá muito mole, o bolinho muito, muito estranho, mas com camarãozinho seco tudo fica uma delícia. Devorei todinho.

Depois visitar minha amiga sortuda que mora por lá. Suco de graviola (hummmm), conversa jogada fora, brisa, sofá (aqui na república tem isso não... sofá? é o que mesmo??). De quebra ganhei dois livros do pai dela que é escritor. Saí de lá toda envergonhada, carregando meus dois presentes debaixo do braço e com uma moleza de subir e descer ladeira nesse domingo ensolarado, mas fresquinho.

Bem, o pai de Madá se chama Cláudio Aguiar. Os dois livros que ganhei são:

"Caldeirão: a guerra dos beatos" (editora Caliban)
"Lampião os meninos" (editora Universitária UFPE)

Aqui um poema dele que achei no site Jornal da Poesia (http://www.revista.agulha.nom.br/CL.html)


Balada dos Últimos Arcanjos

Balada dos últimos arcanjos
Arcanjos vão às águas do Jordão
buscar pedras perdidas no seu leito,
enquanto o cão ao olho leva a mão
e seus filhotes cantam: "Oh, bem feito".
Se as águas brilham fortes no verão,
imagens nelas surgem flutuando
nos espelhos das ondas, deslizando, até que a noite venha a luz cegar.
Só, acordada, a mente vai pensando
no sonho que mais tarde irá sonhar.

Papiro, pergaminho, papelão,
eis o que fica no lodo da terra,
trazido ao dia qual aluvião
se cava a mão e logo os desenterra.
Iluminado arcanjo que se encerra
no leve curso d’água fugidia,
salta desnudo pela margem fria,
alma ou fantasma, dádiva do mundo, desfigurada e rápida alquimia,
dos que não chegam mais além do fundo.

Desembestado o húmus temporão,
incontinenti, avança e não emperra
diante dos olhares dos que vão cedo ao combate da planície à serra,
a paz ferindo, loas dando à guerra.
Não pára o tempo e a pedra o pó gerando,
o micro gene ao vento joga e ferra
a semente na sombra, a germinar
nas horas quentes, vidas transformando,
milhões de vozes na torre a falar.

As correntes do rio, qual trovão,
nas cachoeiras vão trombeteando,
milhões de ícones a verberaro som das eras, voz anunciando,
final estrondo, que o bit vai dar.
Mas domingo sempre é domingo... como não sentir saudade de casa?

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