segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Nem é erudito nem popular





Artista: Gérsion de Castro - Paranoá/DF

Marcelo D2 - A arte do barulho



Olha só o texto do Hélio de La Peña sobre o disco e sobre D2 que eu achei no música social...

A ARTE DO BAGULHO, quer dizer, DO BARULHO
por Helio de la Peña

Você que tá aí de bobeira, olhando pra ontem, gemendo que ninguém te ama, ninguém te quer, esperando que um grande lance caia no teu colo... D2 tem um recado pra você. É hora de se levantar, se mexer, se coçar, parceiro! Esse é o papo reto que corre nas faixas deste novo trabalho. A Arte do Barulho.

Tá ruim pra todo mundo e a vida é curta, não dá tempo de esperar a chegada da cavalaria, não dá pra ficar parado no ponto aguardando passar aquela van com destino à felicidade. Você não está numa lan house, meu cumpadi, essa ficha não te dá direito a outra vida. O jeito é suar a camisa, correr atrás, não é hora de abaixar pra ajeitar o meião. Tá certo, não se pode perder a esperança, é preciso sonhar, ficar de olho na luz no fim do túnel, mas se liga: pode ser o farol do camburão. Então, engole o flagrante e vai à luta.

Marcelo D2 não tá no mundo a passeio, quer deixar a marca do seu grafite lá no alto daquele prédio. É pra isso que ele rala. E sempre ralou. Ex-porteiro, ex-faxineiro, ex-camelô, nunca foi escroque ou escroto. Conheceu Skunk (o músico, não a erva), resolveu ser músico e criou o Planet Hemp (a banda, não a erva). Tumultuou a cena musical no palco, na imprensa, na cadeia. Desberlotou o rock, o rap, o punk e acendeu a chama da novidade até a última ponta.

Partiu pra carreira solo, tirou onda e lançou uma obra-prima – “À Procura da Batida Perfeita”, onde o rap se casou com o samba e foram felizes para sempre. Podia ter parado por aí, podia ter ficado lambendo seus prêmios, seus discos de ouro, de platina, de tungstênio... mas chega de saudade! O cara é sujeito homem, não vive de marcha ré. Meteu o pé e foi em frente. E depois de “Meu Samba é Assim”, ele chega estourando as caixas com “A Arte do Barulho”.

Para quem já tinha se acostumado com a mistura do hip hop com samba, D2 resolve jogar no liquidificador musical o DNA do Planet Hemp, com mais zueira, mais esporro, mais rock’n’roll. Atividade na Laje! Mas o samba continua vivo ali, no seu “Desabafo”, por exemplo. Pode acreditar! E no meio da acidez do discurso de um “Fala Sério”, a doçura de “Ela disse”.

Marcelo não está só nessa caminhada. Ele conta com Seu Jorge, Aori, Roberta Sá, Thalma de Freitas, Zuzuca Poderosa, Mariana Aydar, Medaphor, Marcos Valle e a banda Cabeza de Panda, além da parceria de pai pra filho com seu moleque Stephan.

Coerente e paradoxal, D2 gosta do luxo e das coisas simples, circula no morro e no asfalto, na zona sul e na zona norte, não foge da briga mas também quer sossego. D2 é da paz e não da pasmaceira. Este álbum te convida a vir pra pista balançar o esqueleto e, ao mesmo tempo, a parar pra pensar. Afinal de contas, quem aí não quer levar vida de bagana, digo, de bacana? Então, meu camarada, saia de cima do muro, bote a cara à tapa e vamos fazer barulho!


Agora dá uma olhada no clip. Bommm

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Fetival Cinema Italiano - FUNDAJ Recife

Valor da sessão R$4,00 - meia R$ 2,00
Quinta-feira, 4 dez
20h | Birdwatchers – Terra Vermelha
(BirdWatchers – La terra degli uomini rossi). Itália/Brasil, 2008, 35mm, colorido, 108’

Dir. Marco Bechis. Elenco: Claudio Santamaria, Alicélia Batista Cabreira, Chiara Caselli, Abrísio da Silva Pedro, Matheus Nachtergaele, Leonardo Medeiros. Língua original: Guarani/Português. Numa co-produção Brasil/Itália, o filme retrata o atual processo de aniquilamento cultural sofrido pelo povo indígena no Mato Grosso do Sul e a relação conflituosa de dependência com os grandes fazendeiros da região. As fronteiras entre os latifúndios e as pequenas reservas indígenas delineiam a questão fundiária no Brasil e a relação que os homens estabelecem com a terra, e entre si.

Sexta-feira, 5 dez
20h | Il papà di Giovanna (O papai de Giovanna)

Itália, 2008, Dir. Pupi Avati. Elenco: Silvio Orlando, Francesca Neri, Ezio Greggio, Alba Rohrwacher, Serena Grandi. Língua original: Italiano . Michele Casali (Silvio Orlando) se encontra em uma situação desesperada quando sua única filha, Giovanna, mata a melhor amiga por ciúmes. Reclusa em um hospital psiquiátrico, a jovem conta com o apoio do pai - a única pessoa em quem realmente confia durante o período de isolamento. Um olhar sobre a estreita relação de cumplicidade entre pai e filha. Coppa Volpi de melhor ator para Silvio Orlando. Tela plana, 35mm, colorido, 104’.

Sábado, 6 dez
20h | Un giorno perfetto (Um dia perfeito)

Itália, 2008, Dir. Ferzan Özpetek. Elenco: Valerio Mastandrea, Isabella Ferrari, Stefania Sandrelli, Monica Guerritore. Língua original: Italiano . O filme conta as 24 horas que precedem uma chamada policial após suspeita de disparos de tiros em um apartamento de Roma. A separação passional de um casal e os conflitos e descobertas dos seus dois filhos são o fio condutor para a composição de um panorama humano, onde diversos personagens convivem em meio a uma cidade frenética e inquietante que parece insinuar, ou anunciar, uma tragédia. Tela Plana, 35mm, colorido, 102’.

Domingo, 7 dez
20h | Il seme della discordia (O sêmen da discórdia)

Itália, 2008, Dir. Pappi Corsicato. Elenco: Caterina Murino, Alessandro Gassman, Martina Stella, Michele Ventuci. Língua original: Italiano. Verônica (Caterina Murino) é uma jovem e bela mulher casada com um representante de uma empresa de fertilizantes. No mesmo dia em que ela descobre estar grávida, seu infiel marido descobre-se estéreo. Uma comédia politicamente incorreta sobre família e infidelidade que pretende investigar o universo feminino sem sutilezas e com uma linguagem próxima ao televisivo. Tela Plana, 35mm, colorido, 85’.

Segunda-feira, 8 dez
20h | Almoço em agosto (Pranzo di Ferragosto)

Itália, 2008, Dir. Gianni Di Gregório. Elenco: Gianni Di Gregorio, Valeria De Franciscis, Marina Cacciotti, Maria Cali, Grazia Cesarini Sforza. Língua original: Italiano. Gianni mora com a mãe idosa em um apartamento em Roma. Atolado em dívidas, ele se vê obrigado a negociar com o síndico do condomínio, que lhe propõe quitar algumas delas caso Gianni cuide também de sua mãe no feriado de agosto. Para piorar a situação ele ainda recebe a companhia da tia e da mãe de um amigo. Comédia tipicamente italiana vencedora do prêmio Luigi di Laurentiis, dedicado ao melhor filme de estreante. Tela Plana, 35mm, colorido, 75’.

Terça-feira, 9 dez
18h | Os Monstros (I Mostri)

Itália, 1963, Dir. Dino Risi. Elenco: Ugo Tognazzi, Vittorio Gassman, Ricky Tognazzi, Franco Castellani, Lando Buzzanca. Língua original: Italiano. Um retrato cruel e impiedoso da Itália do milagre econômico. Em 30 episódios, Risi destila seu humor cáustico sobre temas caros à comédia italiana: o consumismo, o casal, a praia, o automóvel. Uma série de esquetes permeadas pela desconfiança numa humanidade dominada pela euforia do boom. Nesta versão restaurada pela Cinemateca Nacional, dois episódios inéditos: O Cérebro doméstico e O Ator. Tela Plana, 35mm, b/n b/w, 118’.

Terça-feira, 9 dez
20h | PA-RA-DA
Itália/França/Romênia, 2008, Dir. Marco Pentecorvo. Elenco: Jalil Lespert, Evita Ciri, Gabriel Rauta, Patrice Juiff, Robert Valeanu. Língua original: Francês/Romeno. A história real do jovem palhaço franco-algeriano Miloud Oukili, que chegou à Romênia em 1992 - três anos depois do fim da ditadura de Ceauşescu - e tentou mudar a vida de um grupo de meninos de rua que vivia da prostituição, de pequenos furtos e da vagabundagem. Através da atividade circense, o palhaço tenta restituir a dignidade das crianças e levar-lhes um pouco de esperança. Tela Plana, 35mm, colorido, 100’.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Exposição "Nem é popular nem é erudito"

Artista: Elder Rocha


No Museu Nacional do Complexo Cultural da República, em Brasília, no Eixo Monumental, até 14 de dezembro.

Obras produzidas por artistas e artesãos nas mais diversas técnicas e linguagens expressivas em todas as regiões do país.
Alguns dos artistas cujas obras estão expostas: Helena Lopes, Elyezer Szturn, Fernando Madeira, José Ivacy, Arlindo Castro, Miguel Simão, André Ventorim, Luiz Gallina, André Santangelo, Rômulo Andrade, João Angelini, Miguel Ferreira e Andréa Campos de Sá.

Depois vou colocando mais fotos das obras que eu mais gostei.

Elegy


"Time pass when you are not looking" David Kepesh (Ben Kingsley)
Fatal (2008). Direção de Isabel Coixet (de “A Vida Secreta das Palavras” e “Minha vida sem mim” também necessários) e roteiro adaptado a partir da obra de Philip Roth ("The Dying Animal").
Com Ben Kingsley (como sempre irretocável) e Penélope Cruz.
Isabel Coixet já alcançou a posição de "ela-dirigiu-eu-vou-ver". Não gosto muito de fazer uma sinopse - não sou qualificada para isso e sempre acaba saindo assim "o filme trata sobre fulano em tal situação", como é a maior parte das críticas feitas, com honrosas excessões.
Mas - hehe - devo dizer que nesse caso o trailer (que coloco logo abaixo) e as sinopses divulgadas não fazem jus ao filme. Não se trata de uma relação entre um homem mais velho e sua ex-aluna e da fixação doentia daquele por esta. "O filme trata" - lálálá - do humano, de envelhecer, de solidão, de perdas e inabilidades para com a vida e suas situações.
Não é uma aula, nem um discurso sobre valores... só um retrato, uma paisagem, sem fim ou propósitos. Uma estória contada para ser apreciada e para revolver, por um instante ao menos, nosso tempo que passa sem que o vejamos.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

TAMBÉM QUERO NADAR NO CAPIBARIBE!!!



Tenho que confessar que essa idéia nunca me ocorreu... o Capiba é tão sujo, mas tão sujo que nem te conto. Mas eis que vi na bodega o primeiro vídeo do programa "Eu quero nadar no rio capibaribe" - esse que está aí em cima. Então, a partir de agora, compartilho o desejo e ajudo divulgando.
Quem sabe, em um tarde qualquer de um domingo ensolarado e abafado do Ricifi, eu possa me refrescar nas águas do velho Capiba, pular da ponte da Boa Vista, passear de jangada com as pernas a rasgar o rio.

Não deixem de ver o vídeo!!

Inês Pedrosa - "A eternidade e o desejo"


Inês Pedrosa foi minha leitura antes do soninho em Brasília. Recém-apresentada, passou no teste.
"A Eternidade e o Desejo" (2008, Alfaguara) nos traz Clara, uma portuguesa cega de amor, da forma mais literal possível, em viagem à Bahia, fugindo da piedade dos olhares portugueses e da falta de sentido do meio acadêmico, numa missão para o encontro com a religiosidade, com o desejo e consigo mesma.
Permeado de citações do Padre Antônio Vieira, a escritora nos guia, ora pela escuridão ácida de Clara, ora pela visão desnorteada de Sebastião, amigo e apaixonado não correspondido. Cachoeira, Santo Amaro da Purificação, Largo do Tanque, terreiro no Engenho Velho, Pelourinho, corredor da Vitória... a Bahia - de forma levemente didática - vai sendo percorrida pelas suas palavras.
Outros romances de sua autoria: "Fica Comigo Esta Noite" (2007, Planeta do Brasil) e "Fazes-me Falta" (2003, Planeta do Brasil).
"Tu dizes que neste lugar cada coisa é tudo ao mesmo tempo; tudo o que foi, tudo o que poderia ter sido, tudo o que há-de ser. E que por isso amas a Bahia - com "h" de homem ou de hoje, dizes, ou da eternidade que é a mesma coisa. O contrário da posteridade, que estraga a vida a tantos."
"Nos olhos dele aprendi a ler Vieira, como no seu corpo aprendi a saborear o desejo infinito, o desejo como experiência da eternidade. Para essa experiência não tenho palavras. Nem sequer silêncio. Dessa experiência, sobrou-me o que sou."

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Já não posso mais cantar "meus vinte poucos anos"



É duro, mas é verdade... ultrapassei a barreira dos 25 e completei, no dia 17, exatos 26 aninhos. Agora não tão mais exatos, dada a demora em postar algo a respeito (aliás a demora em postar, ponto).

Não foi falta de vontade, nem de assunto. Mas sim um emaranhado encadeado de coisas - se é que isso é possível...

Sobre o aniversário, teve festa-quase-surpresa, com direito a bolo, docinho, pãozinho etc; carreata vinda da Bahia-iá-iá só para me fazer feliz - e como fizeram... - telefonemas perdidos e outros achados; abraço, choro, beijo e praia.

Ah e quero comunicar que, a partir de agora, o femme será ilustrado, em geral, com as fotos tiradas na minha protelada e aguardada câmera fotográfica.

A foto, que inaugura essa nova etapa, chama-se "kit-tieta com canga psicodélica ao fundo" (que ninguém leve a sério isso...).

Essa sacola "ebololada" foi meu presente de aniversário dos Piratas. Dentro uma lembrancinha pitoresca de cada um dos piratas-fixos, ou seja, amigos que fiz quando fiquei no "Albergue Piratas da Praia", minha primeira casa recifense.

O nome, claro, vem da minha alcunha em terras pernambucanas...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Aleph, Borges e as gentilezas


Trecho do Aleph de Borges, que recebi hoje por email. Uma gentileza, um "muito obrigado" por um livro de Ítalo Calvino que lhe deixei de presente, que por sua vez era uma outra gentileza, um outro "muito obrigada" por um favor feito, um galho quebrado...

E assim, a vida cheia de gentilezas se torna muito mais bela, fraternal e humana. Que cada sorriso, encontro, palavra trocada seja motivo para se endereçar um poema, enviar um cartão postal, cantarolar uma música, enviar um link de um livro interessante.

Povoemos o "inconcebível universo" com o belo e o terno.


"Na parte inferior do degrau, à direita, vi uma pequena esfera tornassolada, de quase intolerável fulgor. Ao princípio pensei que fosse giratória; logo compreendi que esse movimento era uma ilusão produzida pelos vertiginosos espetáculos que encerrava. O diâmetro do Aleph seria de dois ou três centímetros, mas o espaço cósmico estava aí, sem diminuição de tamanho. Cada coisa (a lua do espelho, digamos) era infinitas coisas, porque eu claramente a via de todos os pontos do universo. Vi o populoso mar, vi a aurora e a tarde, vi as multidões da América, vi uma prateada teia de aranha no centro de uma negra pirâmide, vi um labirinto roto (era Londres), vi intermináveis olhos imediatos escrutando-se em mim como em um espelho, vi todos os espelhos do planeta e nenhum me refletiu, vi em um pátio da rua Soler os mesmos ladrilhos que há trinta anos vi no saguão de uma casa em Frey Bentos, vi ramos, neve, tabaco, gretas de metal, vapor d'água, vi convexos desertos equatoriais e cada um de seus grãos de areia, vi em Inverness uma mulher que não esquecerei, vi a violenta cabeleira, o altivo corpo, vi um câncer de mama, vi um círculo de terra seca em uma calçada, onde antes houve uma árvore, vi uma chácara de Adrogué, um exemplar da primeira versão inglesa de Plínio, a de Philemont Holland, vi a um só tempo cada letra de cada página (quando criança eu costumava maravilhar-me de que as letras de um volume fechado não se misturassem e perdessem no decurso da noite), vi a noite e o dia contemporâneo, vi um pôr-do-sol em Querétaro que parecia refletir a cor de uma rosa em Bengala, vi meu dormitório sem ninguém, vi em um gabinete de Alkmaar um globo terrestre entre dois espelhos que o multiplicavam sem fim, vi cavalos de crina como um remoinho, em uma praia do Mar Cáspio na aurora, vi a delicada ossatura de uma mano, vi os sobreviventes de uma batalha enviando cartões postais, vi em uma vitrine de Mirzapur um baralho espanhol, vi as sombras oblíquas de umas samambaias no solo de uma estufa, vi tigres, êmbolos, bisontes, marejadas e exércitos, vi todas as formigas que há na terra, vi um astrolábio persa, vi em uma gaveta da escrivaninha (e a letra me fez tremer) cartas obscenas, incríveis, precisas, que Beatriz havia dirigido a Carlos Argentino, vi um adorado monumento na Chacarita, vi a relíquia atroz do que deliciosamente havia sido Beatriz Viterbo, vi a circulação do meu próprio sangue, vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, vi minha cara e minhas vísceras, vi a sua cara, e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetural, cujo nome os homens usurpam, mas que nenhum homem jamais olhou: o inconcebível universo."

OBS: Imagem de Anne Julie

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Queimaram a Chapada!!


Ainda não consigo acreditar no que estou lendo, 70 mil hectares queimados!!!! Metade do Parque da Chapada Diamantina consumida pelo fogo!! MAS COMO DEIXARAM IR TÃO LONGE?!?!?! Como foi possível??
Indignada, triste, revoltada. Um crime pelo qual, já sabemos, ninguém pagará. Aliás, todos nós pagaremos pelos culpados.


A matéria na Folha Online

11/11/2008 - 08h51
Fogo destrói quase metade de chapada na BA
LUIZ FRANCISCO da Agência Folha, em Salvador
Focos de incêndio simultâneos destruíram cerca de 70 mil hectares do Parque Nacional da Chapada Diamantina, o equivalente a quase 50% da área da região (150 mil hectares), um dos maiores pólos turísticos da Bahia. A situação é tão crítica que o Corpo de Bombeiros e os gestores do parque pediram que os turistas evitem a região até que chova ou que os focos sejam controlados.
"A situação está fora de controle. Se não houver o reflorestamento, os danos ambientais serão irreversíveis", disse Christian Berlink, administrador do parque.
O incêndio tem origem criminosa --e o forte calor ajuda a propagar as chamas. Segundo bombeiros e voluntários que atuam no combate aos focos, agricultores e garimpeiros costumam provocar incêndios ao preparar a terra para plantações e escavações.
Levantamento parcial do Corpo de Bombeiros da Chapada revela que os primeiros focos surgiram há quase um mês, em 20 municípios que integram o parque ou seu entorno.
Nos últimos dias, porém, a ação do fogo foi mais intensa e esteve concentrada em 11 cidades, queimando casas, material de irrigação, cercas e animais.
"Existe um comprometimento geral do ecossistema da região. Já há animais mortos e outros certamente devem morrer de fome ou de sede", disse Cezar Gonçalves, analista do Instituto Chico Mendes.
De acordo com ele, o parque abriga 370 espécies de aves. "Como esta é uma época de reprodução, certamente dezenas de aves deixaram de nascer porque o fogo destruiu os ninhos, que geralmente estão localizados nas copas das árvores. Além disso, nossos técnicos constataram mortes de répteis e de mamíferos."
Desses 11 municípios, em cinco --Palmeiras, Lençóis, Andaraí, Mucugê e Ibicoara-- a situação é de calamidade pública, segundo Gonçalves.
O combate às chamas está sendo feito por 192 pessoas -150 bombeiros e voluntários e 42 moradores contratados, pois conhecem bem o parque. O efetivo conta ainda com quatro aviões pequenos, dois helicópteros e um Hércules da FAB (Força Aérea Brasileira).



E na A Tarde online (retirei as fotos de lá também)
11/11/2008 às 09:28 ATUALIZADA às 10:10
Fogo destrói metade do parque da Chapada Diamantina
Agencia Estado
Cerca de 70 mil hectares do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia, já foram atingidos pelo fogo na região, segundo informações do superintendente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Célio Pinto. A área queimada corresponde a metade da área da reserva. Cerca de 300 pessoas - 150 voluntários, 42 brigadistas do Ibama, além de bombeiros -, trabalham para tentar controlar os focos de incêndio. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), helicópteros da Polícia Militar (PM) e aviões contratados pelo governo baiano auxiliam no combate às chamas, segundo Célio.Além do parque, diversos municípios também foram atingidos pelos incêndios, comuns nesta época do ano por causa do calor na região da Chapada. "Desta vez, a situação está preocupante por causa das condições climáticas", afirmou o superintendente. "Além do tempo, a Polícia Militar investiga os incêndios criminosos na região", disse.Os focos de incêndio começaram a destruir a vegetação característica da Mata Atlântica do parque, na região do Rio de Contas, no mês passado. O incêndio chegou a ser controlado no final do mês, mas outros focos foram registrados, segundo o superintendente. Hoje, a Coordenação Estadual de Defesa Civil (Cordec) deve se reunir com representantes do governo, da secretaria do Meio Ambiente, do Ibama e dos bombeiros para fazer um balanço das operações e discutir estratégias para o combate às chamas.



A foto aqui de baixo é de Seabra, a maior cidade da região, simplesmente rodeada pelo fogo.












sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Tom Zé ---- Estudando a Bossa Nova (2008)


Mel deusss! Que disco é esse?!?!?!?!?!

Como se não bastasse Tom Zé ser gênio, revolucionário-musical, bem-humorado, perpicaz, enfim..., ele ainda reuniu um timaço de cantoras para acompanhá-lo nesse álbum. Mônica Salmasso, Jussara Silveira, Zélia Ducan (me surpreendeu), Fernanda Takai, Marina De La Riva - suas vozes delicadas junto com a voz de "taquara rachada", hehe, de Tom Zé formam um casamento impensável, mas pra lá de exultante.

Sempre considerei "Jogos de armar" uma experiência divertida, mas "Estudando a bossa", sem perder o escracho, as rimas e construções inusitadas, é, deliciosamente, melódico --- acarinha o ouvido...

Quer ouvir, corre no Um que tenha (corre mesmo porque o site está perigando de ser tirado do ar igual ao Som Barato, para tristeza e indignação geral da nação que aprecia música da booooa...)


Bom também ir aqui e no site do dito cujo.


Ah, dá uma olhada na reportagem da Folha Online

05/11/2008 - 09h36

Tom Zé se rende à bossa nova em novo disco

AUDREY FURLANETO da Folha de S.Paulo

Tom Zé vem tendo "pesadelos sensacionais". Gravou o que considera seu primeiro disco de músicas "cantáveis", chamado "Estudando a Bossa - Nordeste Plaza". "Eu inauguro um novo espaço na minha vida, onde faço pela primeira vez músicas melódicas, cantáveis", diz. "As transformações são assim. Todos os pesadelos meus têm uma mortandade enorme. Eu mato milhões de pessoas e estou o tempo todo ameaçado de morrer", conta, rindo. Por outro lado, com "Estudando", diz que vive uma das fases mais felizes de sua vida ao descobrir que suas músicas, agora, são "fáceis de se amar".

"Estudando a Bossa", que sai pela Biscoito Fino, tem menos ruídos e mais melodias suaves, como em "Barquinho Herói", "Filho do Pato" e "Roquenrol Bim-Bom", com delicadas vozes femininas de Fernanda Takai, Andréia Dias, Jussara Silveira e Anelis Assumpção, entre outras cantoras.

O resultado são faixas distantes do Tom Zé que diz ter feito música "crua e bárbara" enquanto os "bossa novistas finíssimos" Caetano Veloso e Gilberto Gil, nos anos 60, investiam em sons muito "depurados, muito perto da compreensão do que [Tom] Jobim, João [Gilberto] e [Carlos] Lyra estavam fazendo". "Esses são verdadeiros homens finos", diz.

"Tentei fazer essa coisa [em "Estudando a Bossa"] já que meu próprio espírito, graças ao tipo de leitura que tenho feito, graças ao tai chi [chuan] que pratico, graças à mulher com quem sou casado, que é uma mulher culta [Neusa Martins], passou por uma transformação até ser capaz de criar um disco de bossa nova." Segundo o músico, sua relação com os "homens finos" foi de "fã à distância cósmica e, por isso, apaixonado". "Não sou do cacife desses grandes artistas."


Nave extraterrestre A idéia de "Estudando a Bossa" aproveita a efeméride dos 50 anos da bossa nova e, se tem algo em comum com "Estudando o Samba" (1976) e "Estudando o Pagode" (2005), o músico diz que é apenas o fato de se debruçar sobre um gênero que, neste caso, ele viu nascer. "

Na rádio Excelsior da Bahia, em agosto de 58, de repente tocou uma coisa que era imensamente absurda, uma nave extraterrestre pousando em nossos ouvidos e, ao mesmo tempo, estava entranhada em toda a história do samba que a gente conhecia", lembra o músico. A partir daquele dia, avalia Tom Zé, os músicos de sua geração tiveram de "exacerbar sua capacidade perceptiva, para poder conviver com a chegada no planeta Terra da gravação de "Chega de Saudade'". Dias depois de ouvir a canção inaugural da bossa, ele soube que seu compositor era baiano ("outro susto cósmico!"), chamava-se João Gilberto e que estava na Bahia um moço que sabia fazer sua "levada" com o violão. "Eu cheguei à casa dele e já tinha cinco ou seis amigos para aprender a levada do violão de João", conta. O momento seguinte à chegada daquela nave, ele resume como "uma febre de neurônios, ansiedade e paixão" --ou, como diz na letra de "João nos Tribunais", "diante do desafinado, o mundo curva-se, desova".

"O amor puro mandou dizer, por email, desça do muro, que eu já tô cheio, já cansei de você, desse lero-lero, dessa velha letra de bolero...

e só aturo agora o velhaco do Platão com o tal Kama-sutra na mão."
(Tom Zé e Marina De La Riva em "Bolero de Platão).

"Quando Caymmi que criou essa cidade Solvador, foi a Mãe Menininha que amamentou...

"Bahia que padece de usura, meu Deus, e quer fazer torre de toda altura, rebenta praia, quebra Cairu, ninguém escapa desse cerca Jacú. Buda* que ensaia de pijama na Lapinha, Gandhi gandaia que desmama Barroquinha, Patuquicaio* uma mucama na Rocinha, mãe menininha samba reza na Bahia-iá-iá
(Tom Zé, Annelis Assumpção, Daniel Maia em “Solvador, Bahia de Caymmi”)

*Não consegui entender direito essas duas palavras... chutei hehe

“O Rio era lindo demais e amava Niterói, que também dava sinais, doce paixão que dói, e desconsolados olhares, toda noite em vão

piscando sobre os mares numa eterna separação"
(Tom Zé e Zélia Ducan em "Amor do Rio")
"se João Gilberto tivesse um processo aberto e fosse nos tribunais cobrar direitos autorais por todo samba-canção que com sua gravação passou a ser bossa-nova, qualquer juiz de toga, de martelo ou de pistola, sem um minuto de pausa, lhe dava ganho de causa" (Tom Zé em "João nos tribunais")

"Mulher de música é coisa de utilidade pública. Além disso sinhá de iáiá, musa é musa e mulher de carne e osso vem a ser hipotenusa"

(Tom Zé e Fabiana Cozza em "Mulher de música")

"No dia que a Bossa Nova inventou o Brasil, teve que fazer direito, senhores pares, pois nossa capital era Buenos Aires...

"E na cultura Hollywood, cinema dizia que em Buenos Aires havia uma praia chamada Rio de Janeiro (...) naquele Rio de Janeiro o tango nasceu e Mangueira o imortalizou na Avenida, originário das tangas com que as índias fingiam cobrir a graça sagrada da vida."
(Tom Zé e Fernanda Takai em "Brazil, capital Buenos Aires")

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Que abaixo ao consumo que nada!! Eu quero um desse...



What is the Cybook?
The Cybook is an electronic book, it is a portable device that lets you read as you do on paper everywhere you go.
You can now take along all your digital documents with you on a device as small and light as a paperback. The Cybook is perfectly readable in a wide range of lighting conditions, including direct sunlight.

What does the Cybook look like?
The Cybook simply looks stunning with its frosty black finish and its navigation pad on its front side.
With the size of a paperback, the thickness of a magazine and a weight of a mobile phone, the Cybook is truly mobile and can be easily arranged in a hand bag. The Cybook design is definitely beautiful and stylish.

Easy on the eyes?
The Cybook screen possesses a paper-like high contrast appearance. Like a sheet of paper, it can be viewed from nearly any angle, doesn't show any flicker effect and has a high resolution. When you read, you have no eyestrain and it definitely gives you the experience of reading from paper.

How long does the Cybook battery last?
As long as the Cybook E Ink® screen displays the same page, there is no power consumption. This technology drastically reduces power needs. Thus, the Cybook offers an impressive battery lifetime of 8,000 page flips on a full charged battery. It corresponds to a two (2) month battery lifetime for an average reading pace of 80 pages per day.

What can I read?
Almost any digital documents. The Cybook supports many open formats like HTML, Txt, PRC, PalmDoc and PDF. These formats are commonly found on Internet and can be easily generated by many text editors. All these files support font resizing except PDF files which can be zoomed.

Where can I buy contemporary titles?
The Cybook supports the MobipocketTM secured eBook format. This encrypted format enables the Cybook user to get access to one of the biggest catalogue of contemporary copyrighted titles with publishers like Random House, Penguin, Simon & Schuster or Harlequin.
You will find more than 200 eBook retailers on the web which propose MobipocketTM files.

How many books can I carry?
The 512 MB Cybook internal memory can contain several hundreds of books. You can also extend your storage capacity with SD cards storing several thousands of digital documents.

How can I add new files to my Cybook?
Connect the Cybook with the USB cable to any host computer and drag and drop your files. That's it, your new content is in the Cybook, ready to be displayed.
No software installation, no synchronization process, no file conversion and most of all the Cybook is compatible with any kind of host computer (Windows®, Linux, Mac®).

What else?
The Cybook can display many image types like JPEG, GIF and PNG. These images are automatically resized and displayed as on a digital frame device.
The Cybook can also play MP3 files along with the reading of a book.

Obama

Sim, sim, Obama venceu patati patatá. Mas o que ele pensa mesmo?
Interessad@? Bem ele vem divulgando seus programas e planos no scrib.

No vídeo abaixo, o discurso de Obama é bem representativo do por quê ele vem sendo apoiado pelo mundo. É anotar e esperar o que vem por aí.
Não tem tradução (e infelizmente foi editado colocando uma musiquinha sentimentalóide ao fundo). Aqui, as partes mais importantes(tradução minha, se notarem algum erro, avisem):
Como presidente eu vou dar fim a essa guerra no Iraque, fecharei Guantamano, acabarei com a luta contra Al-Qaeda. Fala em liderar o mundo no século XXI (americano, meu bem, queria o que?) marcado por problemas como armas nuleares, mudanças climáticas, genocídio, terrorismo, pobreza. E diz "your future is our future".



Ah, tradução - muito mais decente que a minha - do discurso da vitória em Chicago, no blog de Pedro Dória.
Trechos:
"Um novo amanhecer da liderança americana vem hoje. Vocês que buscam paz e segurança no mundo, nós estamos do seu lado. O grande mérito desta nação não é a força, são nossas idéias: democracia, oportunidade, liberdade. Esta é a América verdadeira."
"E eu não estaria aqui sem minha melhor amiga nos últimos 16 anos, o amor de minha vida, a próxima primeira- dama, Michelle Obama." ---- ah, fala a verdade, aquele "love of my life", dito daquela forma - bem ao estilo Obama, olhar ao longe, mas convicto e seguro, as palavras no tom e tempo certos - foi arrebatador.
Aliás, falar é com ele mesmo

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Lançamento de "Medidas & Circunstâncias" de Claúdio Aguiar na Fliporto --- dia 07/11, 16h


Na Fliporto, que acontece de 6 a 9 de novembro, em Porto de Galinhas, sobre o qual já falei aqui no femme antes, vai acontecer o lançamento do livro Medidas & Circunstâncias – Cervantes, Padre Vieira, Unamuno, Euclides e Outros, de Cláudio Aguiar, pela Editora Ateliê Editorial .
O autor é pai de uma amiga olindense minha e eu já falei sobre eles aqui. Já li um dos livros que Madá, lindamente, presenteou-me, e já estou no segundo.
Escritor de primeiríssima!
Onde: Porto de Galinhas - Stand da Livraria Jaqueira
Quando: 07/11/2008 às 16h
OBS: Sobre o livro, segue o texto escrito por Nelson Mello e Souza e publicizado no site da Editora.
Cláudio Aguiar lança este conjunto de trabalhos denominado Medidas & Circunstâncias – Cervantes, Padre Vieira, Unamuno, Euclides e Outros que oferece ao leitor brasileiro. Cláudio mantém no conjunto da obra seu estilo fluido e fácil, sua honestidade interior, seu encanto como estudioso de nossas coisas e de nossas gentes. Sem perder o sentido humanístico que o faz um admirador da Espanha, onde estudou, proferiu conferências e viveu por alguns anos na Universidade de Salamanca. Por isso incluiu na coletânea estudos sobre Dom Quixote e o pensamento de Unamuno.
O livro reúne dez textos. Alguns, como o escrito sobre a obra missionária de Vieira, assim como sobre Cervantes e o Quixotismo, além dos dedicados a Unamuno e Euclides da Cunha, podem ser considerados até pequenos ensaios. Viável classificá-los assim. Pelo menos se entendermos o termo "ensaio" popularizado desde o século XVI por Montaigne, no sentido de trabalhos intelectuais que resumem reflexões críticas pessoais, de cunho histórico, sociológico ou filosófico.
Cláudio tem evidente vocação filosófica. Sendo como é um homem de pensamento não escapa de seu compromisso de buscar no silêncio dos temas seus desdobramentos sobre a vida, a história e o seu tempo.
Todos os trabalhos contidos nesta coletânea de Cláudio Aguiar são provocativos. Sempre neles há algo de original. Desperta a atenção curiosa, o desejo de conversar com o autor, até de divergir construtivamente, travando um lúcido debate intelectual sobre suas posições. Simplesmente porque Cláudio não escreve de modo repetitivo, mas sempre defendendo posições próprias que merecem ser discutidas. Ordenados de modo claro, em estilo limpo, derivam de pesquisa paciente.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A história das coisas e o que temos a ver com elas





Sou leiga em economia, mas diante de todos preocupadíssimos com a desaceleração da produção, decorrente da crise, às vezes fico me perguntando, mas será que isso é tão ruim assim??
Sim eu sei que gera desemprego e queda no nível de vida - especialmente da classe média - mas em compensação o panorama em que as coisas vinham sendo mantidas até agora era completamente irreal.
Hoje fui assistir "Linha de Passe 174" no Shoping Recife - na promoção claaaaro. Cheguei com uma hora de antecedência e fiquei rodando.
É tanta gente andando, comendo, comprando, sentando, se esbarrando. É tanta vitrine com shortinhos a R$80,00, blusas a R$190,00, sainhas com dois palmos de pano por míseros R$140,00 (isso nas lojas intermediárias).
Quer saber? aquilo tudo me diz tão pouco... Fiquei pensando no que eu realmente preciso dali e, fora a câmera digital (que estou querendo comprar há 3 anos...) e a Livraria Saraiva inteira heheh (que foi onde eu acabei indo parar 10 minutos depois do início da minha voltinha), a resposta é nada.
Mas será que sou diferente de todo mundo? Será que tenho menor necessidade de coisas naturalmente? Será que sou mais canguinha (mão fechada, econômica, sovina hehe) do que os outros? - esse último com certeza rsrs -
acho que não! As necessidades são criadas, pela mídia, escola, família, sistema e o escambal.
É preciso ficar atento, para não se deixar levar sem saber para onde está indo. E claro, pensar um pouquinho além do próprio umbigo e da cor da moda do próximo verão.

PS: Ah o vídeo, eu vi primeiro no blog de Cafrune e depois Carlóida mandou por email..

Era só o que faltava lavar - pena que não vou estar lá...


domingo, 2 de novembro de 2008

Repassando desejos

(...)Desejo a você:
Rir como criança,
ouvir canto de passarinho,
sarar de resfriado,
escrever um poema de amor que nunca será rasgado,
formar um par ideal,
tomar banho de cachoeira,
pegar um bronzeado legal,
aprender uma nova canção,
esperar alguém na estação,
queijo com goiabada,
pôr de sol na roça,
uma festa, um violão, uma seresta,
recordar um amor antigo,
ter um ombro sempre amigo,
bater palmas de alegria,
uma tarde amena,
calçar um velho chinelo,
sentar numa velha poltrona,
ouvir a chuva no telhado,
vinho branco,
Bolero de Ravel...
Drummond


De Tico em 30.10.2008

sábado, 1 de novembro de 2008

Parárárá parárárárá


O frevo, um blog todinho dedicado a - advinhem... - frevo!

O último post dele foi em julho desse ano, mas ainda assim vale a pena dar uma conferida no que ficou por lá.

Fevereiro daqui a pouco já está aí. Em 2009 vou trocar a pipoca baiana pelo carnaval das bandas de cá e, definitivamente, não quero ficar só no parárárá.


PS: Foto de Ciele Voss

mostra "Encantado: O cinema de Jacques Demy"


Sábado, 16h e 20h
Os guardas-chuvas do amor (1964)
Drama/Musical/Romance. Colorido. 91 min. Plano.
Geneviève Emery, cuja mãe possui um comércio de guarda-chuvas, é uma adolescente de 17 anos se vê obrigada a decidir entre esperar por seu amor, um mecânico de 20 anos que foi servir ao exército na Argélia, ou se casar com um comerciante de diamantes, que se propõe a criar o bebê que ela espera como se fosse seu.

Sábado, 18h Domingo, 20h
Lola (1961)
Com Anouk Aimée. Drama. P&B. 85 min. Scope.
Lola é uma dançarina de cabaré que espera pelo retorno de Michel, namorado que há sete anos foi para a América e é pai de seu filho. Durante sua ausência, Lola é cortejada por Roland, seu amigo de infância, e pelo marinheiro americano Frankie. Tudo indica que ela acabará escolhendo definitivamente um dos dois, mas seu coração ainda pertence a Michel.

Domingo, 16h e 18h
Pele de asno (1970)
Com Catherine Deneuve, Jacques Perrin, Jean Marais. Comedia romântica. Colorido. 100 minutos. Plano.
Num reino distante, a rainha em seu leito de morte fez o rei prometer que só voltaria a se casar com uma mulher que fosse mais linda do que ela. Mas em todo o reino, apenas uma pessoa era dotada de tal beleza: sua própria filha. Desesperada, a princesa pede ajuda à sua fada madrinha, que a aconselha a pedir presentes de casamento cada vez mais impossíveis de se encontrar para retardar a união.

Segunda, 17h e 20h
Duas garotas românticas
Colorido. 128 minutos. Scope.
Delphine e Solange são duas irmãs gêmeas encantadoras e espirituosas de 25 anos. Delphine, a loira, dá aulas de dança e Solange, a ruiva, de música. Elas vivem então da música e sonham ir para Paris e ter uma vida de fantasias.

Terça, 18h e 20h
A baía dos anjos
La Baie des Anges (França). De Jacques Demy. Com Jeanne Moreau. P&B. 89 minutos. Plano.
Jackie é uma parisiense de meia idade que deixa seu marido e filhos para se aventurar no mundo das apostas em Nice, onde estará em jogo não apenas o frenesi das roletas do cassino, mas também o do ciclo da sedução.

Quarta, 17h30 e 20h
Jacquot de Nantes (1991)
De Agnès Varda. Com Édouard Joubeaud, Philippe Nahon. Colorido e P&B. 118 minutos.
Era uma vez um menino criado numa oficina mecânica, na qual todos amavam cantar. Era 1939, ele tinha 8 anos e adorava marionetes e operetas. Mais tarde, quis fazer cinema, mas seu pai o fez estudar mecânica. Trata-se de Jacques Demy e suas recordações. O filme é a crônica de seus jovens anos com seu irmãozinho, amigos, jogos, amores infantis. É a evocação de uma vocação, filmada pela mulher que Jacquot conheceu em 1958 e que dividiu com ele sua vida desde então.


SERVIÇO
Cinema Apolo - Rua do Apolo, 121
Entrada franca
Informações: 3232.2028 / 3232.2030

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Avenida Sete, mon amour



Esse vídeo foi postado no Som do Roque em dezembro de 2007, mas só hoje, fuçando à procura de um post antigo,me deparei com ele. Ele é de Ana Lígia Leite e Aguiar que mora - ou morava - na Av. Sete de Setembro em Salvador; do Porto da Barra até a praça Castro Alves, ela se estende, se transforma, carrega extremos, é a face da cidade. Também um dia falo melhor dela - com direito a foto.

PS: Depois de 8 meses em Recife, acho que vai dar para comprar uma câmera - normal, da mais baratinha mesma, nada de profissional que eu nem sei mexer nisso. Tanta coisa que quis registrar e não pude... talvez tenha sido bom, forçar os olhos e fazer deles a minha câmera, tentar guardar cada pedaço da cidade, das pessoas.
Mas, por esses dias ela tá saindo, e aí vou sair por aí e mostro por aqui.
Ah e vou fazer o mesmo na Bahia-iá-iá

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sobre2Rodas


Há um tempinho atrás coloquei o vídeo de um documentário bem curtinho sobre locomover-se com bike. O cara fez outro e está participando de uma concorrência "o vídeo que, ao final do período de votação (dia 31 de outubro), tiver a média mais alta de 'estrelinhas' no youtube, vence. O vencedor produzirá ainda um outro documentário.". Então, dá uma chegada aqui e assite o vídeo.

Carlos Pena Filho


Desmantelo Azul
Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas
depois vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas

Para extinguir de nós o azul ausente
e aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas
E afogados em nós nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço
E perdidos no azul nos contemplamos
e vimos que entre nascia um sul
vertiginosamente azul: azul.

Carlos Pena Filho


Poeta pernambucano, cuja estátua fica na praça do Diário sentado, junto a uma mesa, a esperar por companhia. Passava no ônibus e olhava-o. Era só uma estátua; outro dia, um amigo pronunciou seu nome e descobri que eram os mesmos, o nome e a estátua. Ela então ganhou letras, sons e uma cor - ao menos para mim.
A Solidão e Sua Porta
Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)

Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

Arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.

Carlos Pena Filho
PS: Enviado para Feit em 24.10.2008
PS2: A foto é minha, tirada na máquina de Kawaii em 25.08.2008, no II Bon Odori realizado pela Associação japonesa aqui em Recife.
Pelo Wikipédia ----- Bon Odori é um festival que ocorre anualmente durante o verão, sempre após o pôr do sol, pois prevalece a crença de que os espíritos somente saem durante a noite. Cada localidade escolhe uma data específica para fazer os seus festejos durante esse período. O Bon Odori é um festival de tradição budista que tem as suas origens na China. Durante o Bon celebram-se as almas dos antepassados com danças em grupo e levando-se lanternas acesas saudosamente lembrando da sabedoria dos antepassados. Apesar de análogo ao dia dos finados, durante o Bon são tocadas músicas tradicionais alegres e, sobretudo, predomina um clima de jovialidade, gratidão e participação geral. Muitas famílias aproveitam a oportunidade para se reencontrarem durante o Bon, voltando das grandes cidades aos seus lugares de origem. O Bon também é celebrado em comunidades de imigrantes japoneses e seus descendentes e amigos fora do Japão

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Dá aos olhos cegos dele a luz que ele perdeu por fitar o amor tão intensamente


A lua branca

A lua branca brilha no bosque. De ramo em ramo, parte uma voz que vem da ramada.
Oh! bem-amado! Reflete o lago, como um espelho, o perfil vago do ermo salgueiro que ao vento chora. Sonhemos, é hora...
Como que desce uma imprecisa calma infinita do firmamento que a lua frisa. Estrela da manhã volta ao poeta. Dá aos olhos cegos dele a luz que ele perdeu por fitar o amor tão intensamente. Depressa! Ilumina meu sonho com ele na hora indecisa, porque o sol dourado já vem!
Paul Verlaine
(no flyer de divulgação da peça "Anjo de fogo e gelo" que conta a história do romance entre os poetas Paul Verlaine e Arthur Rimbaud - em cena no Teatro Barreto Jr., aos sábados e domingos, 20h - Recife, Pina, Av. Conselheiro Aguiar)


Assisti, hoje, no Teatro do Parque (R$1,00 hehe), "os desafinados". Mas pelo amor de Jhá, que filme mais ruimzinho é esse?!?!?!
Inúmeras cenas desnecessárias, roteiro fraco, cheio de lugar c0mum (enfiaram a questão da ditadura militar, por exemplo, de qualquer jeito), Selton Melo novamente como o inconsequente maconheiro e, pra completar, a mesma cara de sempre de siriema morta de Alessandra Negrini, olhe... dá não.
Só não foi pior do que o da semana passada "Era uma vez". Não lembro se comentei alguma coisa. Em todo caso, não falar: não vale a pena...

PS: Ilustração de Anne Julie

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Saramago, Claudel e Feit


Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.


José Saramago
(De Feit, em 21.10.2008, por email)

PS: Imagem "O abandono" de Camille Claudel

domingo, 26 de outubro de 2008

Carta aberta dos professores da Ruy Barbosa


Julho quando estive em Salvador, acompanhei de relance o início desse tal "tsunami". Um amiga minha, professora da Ruy, não estampava o sorriso que lhe é peculiar e fui logo perguntando "que que houve, que que há". Acho que fazia só uma semana que a Ruy tinha sido vendida para um grupo especializado em mercantilização do ensino. A tradição pedagógica, o cuidado com o aluno e com os funcionários davam lugar para a maximização do lucro e minimização dos custos a qualquer preço. Ela relatou cada caso, um mais sacana (vão desculpando, mas não tenho outra palavra) do que o outro. Ao que parece, de lá para cá pouco mudou, pelo contrário. Hoje me deparei com essa nota no som do roque, se na época a coisa já estava feia, imagino agora para estarem tomando uma atitude dessa. A Ruy é uma faculdade privada e os pescoços desses professores estão em jogo, mas se trata de educação e, portanto, de interesse de todos e de cada um. Que eles sejam ouvidos e recebam o apóio necessário para enfrentar e reverter a situação.
Divulguem!

Bicicletada em Salvador

Já passou, mas de qualquer forma vai aqui o contato ----- dia 24 de Outubro teve a primeira “Bicicletada” em Salvador. Promovida pelo Núcleo Pró-ciclovias de Salvador (iniciativa de estudantes do curso de Comunicação Social com Relações Públicas da Uneb).
Contato:
voudebike@ymail.com
(71)8795-8157

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Praça do sebo, mate com leite e o circuito de poetas do Recife




DOMINGO NO RECIFE

O número encarnado no calendário
retalho do vestido esvoaçante
na tarde de regata, derradeira mancha de sangue,
o corpo recomposto nessa mancha
deslizando na superfície do domingo.

Domingo urbano colorido de acácias,
que acharam nesta floração apenas
as sombras dos antigos namorados.
(Ó pedra tumular do banco do jardim público.)

Dia nítido lavado pelo Capibaribe,
o rio ninando o Recife.
o Recife criança em seus braços maternos.
Domingo de várias ressurreições, da mãe levando o menino para a missa,
do primeiro cinema impróprio para menores,
do circo, do clarinete de "seu" Miguel.

Domingo colonial imutável no bairro de São José.
Vêm da igreja a música do órgão e as vozes femininas de dois séculos.
Um vôo de pomba acaricia o espaço quieto.
O Espírito Santo baixará no Pátio de São Pedro.

Domingo feito de silêncio e sombras descendo a escada,
perturbas somente a paz dos arquivos,
libertas o tempo prisioneiro nas gavetas.
As palavras das cartas soam como vozes,
as dedicatórias saem do mutismo
da caligrafia para os lábios úmidos dos retratos.

Exuma-se o baralho
na mesa de jantar (as primas em dezembro)
os valetes dormindo para sempre,
as damas louras consumidas.

Vejo do cais da Rua da Aurora,
— o domingo fugindo nas ioles,
na cor da tarde, no vôo dos passarinhos,
na bicicleta de Suzana.

Assisto ao suicídio do domingo no Recife,
o domingo jogando-se da Torre do Diario,
na música do carrilhão batendo meia-noite.

Receio de entrar na madrugada fria.
Recolho na praça as horas despedaçadas.
Quero que este domingo seja a antecipação da eternidade.

Mauro Mota, pernambucano de Nazaré da Mata



Hoje não era domingo e eu não estava a passeio, mas qualquer ida ao centro do Recife pode virar, sem quê nem pra quê, uma surpresa. Da Faculdade na Boa Vista ao cartório Maciel em Santo Antônio, vou passando pela Rua da Aurora, desviando do povo que vai e vem, saltando as poças de água suja e mal-cheirosas, em meio a uma profusão de ambulantes e seus quitutes - tareco, churros, torteletas de brigadeiro, biscoito de povilho, frutas, milho assado, pipoca doce, salgada ou achocolatada.

Cumprido o compromisso, vem o convite para tomar mate com leite. Convite aceito. Atravessa a rua, corre do ônibus que vem à toda, anda mais um pouco e como se houvesse um portal mágico chegamos a uma pracinha espremida entre prédios velhos, mal-cuidada, pouco iluminada mas recheada de livros ---- uns dez ou mais sebos.
No centro, o poeta não pode ler seu jornal - um ambulante colocou seu estoque de cintos naquele suporte improvisado. Justo. O que poderá dizer o jornal de hoje a ele, ou o de qualquer dia. É Mauro Mota, em uma das estátuas do circuito de poesia do Recife.
Depois numa biboca ali perto, tomamos mate e derramamos conversa a toa. Já é meio dia e o movimento não pára: cachorro quente, bolo, suco, pastel, coxinha. Enquanto isso, aqui, o mundo passa devagar.
Volto para casa de Setúbal pensando na vida triste de estátua, na sua eternidade perante o jornal de concreto, e que qualquer dia desses volto lá e sento ao seu lado e dividimos o poema, a tristeza, e o tempo que corre, mas que aqui apenas passa.

PS: Aqui dá para escutar o poema declamado...
PS: Procurando uma foto da estátua de Mauro Mota, achei esse blog que coleciona fotos das pessoas junto com estátuas pelo mundo afora. Gostei, só isso---
PS: A foto é de Renata Beltrão (achei no Flickr)

Por fim um vídeo com uma reportagem muitíssimo bem feita sobre o circuito dos poetas que achei nesse blog aqui (que por sinal, foi direto para os favoritos)


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Recife Antigo na Vida Simples

Olha só que foto da reportagem na revista Vida Simples http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/072/horizontes/slide_391101.shtml desse mês sobre o Recife Antigo .
Ainda vou postar algo só sobre ele, aliás, Recife Antigo, Santo Antônio, São José, Boa Vista e Santo Amaro - meus cantinhos preferidos por essas terras.

Feiras orgânicas


Achei um site com muitas dicas relacionadas a orgânicos, inclusive com lista de feiras e lojas especializadas, é o Portal Orgânico http://www.portalorganico.com.br/
Não havia nenhuma feira cadastrada em Salvador... Em Recife são essas daqui:

Espaço Agroecológico das Graças End.: Em frente ao colégio São Luiz - Graças Cep: 52050-000 - Recife - PE Funcionamento Sábados das 5h às 10h Contato Centro Sabiá Tel.: (81) 3223-7026 Site: http://www.centrosabia.org.br/
Espaço Agroecológico de Boa Viagem End.: Segundo Jardin em frente ao restaurante Parraxaxá - Boa Viagem Cep: 51011-550 - Recife - PE Funcionamento Sábados das 5h às 10h Contato Centro Sabiá Tel.: (81) 3223-7026 Site: http://www.centrosabia.org.br/
Feira Agroecológica da Praça de Casa Forte End.: Praça de Casa Forte - Av. 17 de Agosto - Casa Forte Cep: 52061-420 - Recife - PE Funcionamento Sábados das 5h às 10h Contato Cendap Tel.: (81) 3421-1989

domingo, 19 de outubro de 2008

capital controla a força de trabalho com a ameaça do desemprego, a sociedade controla a sexualidade feminina com a ameaça do estupro. Ana Alice Costa


Trecho da entrevista da Muito (revista do jornal baiano A Tarde) dessa semana com a cientista política e diretora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher (Neim), Ana Alice Alcântara Costa.

A eleição do vereador Leo Kret (Alecsandro de Souza Santos/PR) embaralha as regras das relações de gênero?
A eleição de Leo Kret cria um problema na Câmara dos Vereadores. Como cientista política, não acho que ele seja tanto um voto de protesto. Havia alguns vereadores que fiquei muito feliz de eles saírem e Leo Kret tomar o lugar deles. São homofóbicos que querem falar da cidade e não conseguem pensar que a cidade tem vários Leo Kret, e que a cidade tem uma diversidade que lá não aparecia. Acho que ele ou ela, é muito difícil a gente saber como vai tratar agora, é um exemplo de se pensar gênero, ou seja, comportamentos deslocados do sexo biológico por construções sociais.

A feminista Andrea Dworking fala que o casamento é uma instituição desenvolvida tendo o estupro como prática. A senhora concorda?
Tem uma teórica feminista, Catharine MacKinnon, que trabalha nesse mesmo campo. Ela utiliza categorias marxistas para fazer uma relação com a opressão das mulheres. Ela diz que, da mesma forma que a exploração do trabalho é o definidor da sociedade capitalista, a exploração da sexualidade feminina é o definidor da opressão das mulheres do patriarcado.

Quer dizer, é modo de produção e de reprodução?
Exatamente. Do mesmo modo que o capital controla essa força de trabalho com a ameaça do desemprego, a sociedade controla a sexualidade feminina com a ameaça do estupro. O estupro, a violência sexual, não é uma coisa distanciada da gente. Nenhuma mulher está imune. A gente vê no jornal: é a menina de 3, 5 anos e a mulher de 80, qualquer uma nós. Tanto a doutora Alice como a dona Maria, doméstica do Calabar, têm medo de sair à noite. O homem tem medo de ser assaltado, de levar um tiro, de levar uma facada. Nós temos medo de ser assaltadas, levar um tiro, levar uma facada e sermos estupradas. Eu não estou dizendo que todo homem é um estuprador em potencial, mas toda mulher é uma vítima de estupro em potencial.

O casamento seria ...
O casamento é isso, a legitimidade disso. Até hoje, a gente não consegue nem levar essa discussão do estupro doméstico ao Congresso Nacional, e que é uma realidade de muitas mulheres casadas.
PS: a ilustração é de Anne Julie http://www.annejulie-art.com/blog/

Naomi Klein ---- Cercas e janelas: na linha de frente do debate sobre globalização


O som do Roque colocou o link http://somdoroque.blogspot.com/2008/10/cercas-e-janelas-naomi-klein-livro-para.html para baixar Cercas e janelas de Naomi Klein (postei aqui no femme antes, olhe aqui http://blog-da-tieta.blogspot.com/2008/06/neoliberalismo-e-o-capitalismo-do.html)


Zabé da Loca --- Bom todo (2008)


Depois de muito procurar achei um link para o álbum "Bom todo" de Zabé da Loca que se apresentou na MIMO - Mostra Internacional de Música de Olinda - desse ano.
Ela e Carlos Malta (Pife Muderno) são as razões da minha paixão pelo pífano pós-MIMO.



Sobre Zabé, transcrevo o release fornecido pela gravadora e postado no site do Instituto da Memória Musical Brasileira que também vale a pena conferir.

BOM TODO(2008)
Crioula Records CR 001
Artista(s):Zabé da Loca
Esteve durante 25 anos em uma caverna um dos segredos mais bem guardados da música popular brasileira. Quantos artistas já não quiseram começar assim um texto biográfico? Muitos, certamente. Mas sejamos francos: pouquíssimos foram os que conseguiram fazer justiça a essa imagem. Ainda mais quando a tal caverna não é, nem de longe, o que poderíamos chamar de “figura de linguagem”. Pois ela não só existe como é apenas mais uma das incríveis histórias reais dos 83 anos da vida de Isabel Marques da Silva, a Zabé da Loca. Mas antes que o distinto cidadão faça o essencial – que é remover a embalagem de plástico e botar esse Bom Todo para tocar – carece explicar alguns fatos. Desde os sete anos de idade, Zabé é tocadora de pífano, uma rudimentar flauta feita inicialmente de bambu (e mais tarde de cano de PVC ou metal), tradicional do Nordeste brasileiro. Infância e juventude, a artista passou trabalhando no campo e fazendo música na cidade de Buíque, agreste de Pernambuco. Casada, mudou-se para o interior da Paraíba, teve três filhos e, em 1966, ficou viúva e viu sua casa literalmente ruir. A única alternativa foi mudar-se com a família para uma gruta (uma loca, na linguagem da região), cuja entrada ela tapou com paredes de taipa e onde passou o seguinte quarto de século. Surgiam ali o apelido e as condições que talhariam a sua música. Do pife, Zabé da Loca extraiu o som do seu universo paralelo.
Descoberta pela mídia em 1995, a artista saiu da caverna – mas a caverna não saiu dela. Bom Todo (frase que, por sinal, é uma das poucas que Zabé normalmente profere – e só em grande estado de contentamento) é o sonhado registro de uma música que, em sua forma, remete aos mestres da Banda de Pífanos de Caruaru. Mas só ouvindo mesmo para acreditar no que está acontecendo. Pequenina, sempre com seu cigarrinho de fumo de rolo, Zabé da Loca gravou pela primeira vez nos anos 90. E só saiu do eixo Paraíba-Pernambuco em 2004, para participar, em Brasília, do projeto de shows Da Idade do Mundo, uma idéia da produtora Lu Araújo, ex-dona de uma loja de LPs independentes, hoje à frente da empresa Lume Arte. Lu já conhecia a pifanista de gravações e que, desde então, alimentava planos de dar a ela o disco que ela sempre mereceu.
Desse sonho, nasceu Bom Todo, que não por acaso é o lançamento inaugural da Crioula Records, selo da produtora, dedicado à sensacional música brasileira que ainda não encontra espaço no mercado. O projeto do disco foi contemplado pelo Programa Petrobras Cultural, a maior ação de patrocínio em cultura do país, da empresa que é uma das principais fomentadoras da música brasileira em seus diversos segmentos. Bom Todo começou a tomar forma quando, por sugestão de Lu, Zabé e seu grupo se encontraram em 2005 num estúdio em Recife com Carlos Malta, homem dos mil instrumentos de sopro, que tocou durante anos com o bruxo Hermeto Pascoal e que fundara um grupo só para tocar pífanos, o Pife Muderno. O acanhamento inicial (“Não sou musiqueira”, dizia a pifanista) logo deu lugar a uma rara sintonia musical e, em pouco mais de duas horas de estúdio, surgiram algumas das primeiras músicas do CD.

A guerra do fim do mundo ---- Monte Santo Bahia

Recebi hoje por email e estou, como pedido, divulgando


Três trabalhadores rurais foram assassinados no dia 15.10.2008 em emboscada preparada por pistoleiros e, segundo fortes indícios, a mando de grileiros de terras da região da Fazenda Capivara, Monte Santo, Bahia.Os trabalhadores se deslocavam a pé da Fazenda Capivara em direção ao Assentamento Santa Luzia da Bela Vista onde estava ocorrendo uma reunião com servidores do Incra, cujo objetivo era realizar um cadastramento para a construção de cisternas.Os trabalhadores tinham 48, 24 e 23 anos, e se chamavam Tiago, Luiz e Josimar, respectivamente.Os dois jovens foram mortos primeiro e seus corpos escondidos na caatinga. Tiago, que vinha caminhando sozinho, teve seu corpo deixado na estrada. Os sepultamentos aconteceram ontem. São essas as informações que temos no momento. A delegacia agrária, a delegacia local, o Incra e o CDA já têm ciência do ocorrido. O clima na cidade e na zona rural é de tensão. Os/as trabalhadores/ as rurais estão assustados/as e apreensivos/ as, pois temem novos atentados, inclusive contra as assessorias técnicas e mobilizadores/ as locais. Por favor, divulguem este e-mail, pois do ano passado até o presente momento, computam-se 6 assassinatos de trabalhadores rurais por aqui, por conta dos conflitos fundiários envolvendo grileiros e posseiros.

Tatiana E. Dias Gomes e João Alexandrino de Macedo Neto.
Advogados

Lembrei, de Thiago de Mello e Eugênio Lyra (advogado de causas de trabalhadores rurais na Bahia, morto em 22 de setembro de 1977, aos 30 anos de idade, quando saía à luz do dia da barbearia em Santa Maria da Vitória (cidade do extremo oeste da Bahia), ao lado de sua mulher Lúcia Lyra, também advogada, grávida de cinco meses, pelo pistoleiro Wilson Gusmão, que apontou a arma para a testa de Eugênio Lyra e atirou.
Lembrei de quantos e quantos mais sem-rostos que morreram e continuam a morrer...

Buscando um poema de Thiago de M., achei esse vídeo com ele mesmo recitando o Estatuto do Homem.
Aproveitem e divulguem.

As hipóteses são como redes, só quem as lança é capaz de colher alguma coisa. ---- Novalis

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Festival MúsicaRecife - de graça para o fim de semana yeee


O festival acontecerá entre os dias 10 e 26 de Outubro com a participação de 36 bandas diferentes (a grande maioria de rock). Todos os shows são gratuitos na Praça do Arsenal.

Praça do Arsenal de 10 a 26 de Outubro de 2008
Sexta (10/10)
20h Canivetes
21h Bande Ciné
22h Zé Povinho
23h Zé Pilintra
Sábado (11/10)
21h Comunidade Azougue
22h Nuda
23h Suburbanos
00h The Playboys
Domingo (12/10)
17h Antiquarta
18h Relles
19h Asteróide B61
220h The Keith
Sexta (17/10)
20h Erro de Transmissão
21h Nose Tail
22h Sweet Fanny Adams
23h Profiterolis
Sábado (18/10)
21h Rhudia
22h Os Insites
23h AMP
00h Pocilga Deluxe
Domingo (19/10)
17h The Liverys
18h Martinez
19h A Banda de Joseph Tourton
20h Chambaril
Sexta (24/10)
20h Malvados Azuis
21h A Comuna
22h The Dead Superstars
23h Mellotrons
Sábado (25/10)
21h Duque de Arake
22h Ultralev
23h Electrozion
00h Júlia Says
Domingo (26/10)
17h Ohm
18h Pé Preto
19h Backstages
20h Vamoz!
+++
Red Bull Street Style – Final Nacional
Local: Praça Barão do Rio Branco (Marco Zero)
Data: Sexta-feira, dia 17 de outubro
Horário: 19h
Participação especial: Mundo Livre S/A
Pocket show: Maggo MC e Hugo
DJs: Justino Matos e Renato da Mata (Magia Negra)
Entrada gratuita

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Creio que a literatura não promove mudanças, mas permite formular perguntas. E as perguntas promovem as mudanças (Guilherme Arriago)


Duas coisas muito interessantes hoje:

Uma esse post do Catatau http://catatau.blogsome.com/2008/10/15/jornais-antigos-publicados-on-line/ com vários links para acesso de acervo de jornais e periódicos ---- França, The Times, The New York Times, vários jornais da terra brasilis, enfim, muita coisa. Vale a pena!!


A outra é a edição da Revista da Livraria Cultura desse mês http://www2.livrariacultura.com.br/culturanews/rc15/index.asp que vem com:

- Um ótima entrevista com Guilhermo Arriaga, roterista de Amores Brutos, 21 gramas e Babel

- Em entretenimento, uma reportagem sobre ópera que menciona dois eventos até então completamente ignorados por mim o Festival Internacional de Ópera da Amazônia (em Belém anualmente desde 2002) e o Festival Amazonas de Ópera (em Manaus, desde 1997) ---- já o Festival de Verão em Salvador tem uma meeeeega divulgação nacional...

- A indicação do site Catraca Livre http://www.catracalivre.com.br/de Gilberto Dimenstein que divulga eventos culturais ou de baixo custo --- infelizmente o foco é São Paulo, mas tem muitas dicas e informações preciosas. Tanto que de lá já fui parar no myspace de Concerto de Rua http://www.myspace.com/concertoderua grupo de música erudita e formação clássica que se apresenta nas ruas de São Paulo. Cheguem lá e escutem!

- O blog de Saramago http://blog.josesaramago.org/

e ficar sabendo que tem livro novo vindo aí... "A viagem do elefante"


Fragmento do livro disponibilizado pelo escritor no blog

Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade. A esta hora os companheiros da caravana já deram com certeza pela falta do ausente, dois deles declararam-se voluntários para voltar atrás e salvar o desditoso náufrago, e isso seria muito de agradecer se não fosse a fama de poltrão que o iria acompanhar para o resto da vida, Imaginem, diria a voz pública, o tipo ali sentado, à espera de que aparecesse alguém a salvá-lo, há gente que não tem vergonha nenhuma. É verdade que tinha estado sentado, mas agora já se levantou e deu corajosamente o primeiro passo, a perna direita adiante, para esconjurar os malefícios do destino e dos seus poderosos aliados, a sorte e o acaso, a perna esquerda de repente duvidosa, e o caso não era para menos, pois o chão deixara de poder ver-se, como se uma nova maré de nevoeiro tivesse começado a subir. Ao terceiro passo já não consegue nem sequer ver as suas próprias mãos estendidas à frente, como para proteger o nariz do choque contra uma porta inesperada. Foi então que uma outra ideia se lhe apresentou, a de que o caminho fizesse curvas para um lado ou para o outro, e que o rumo que tomara, uma linha que não queria apenas ser recta, uma linha que queria também manter-se constante nessa direcção, acabasse por conduzi-lo a páramos onde a perdição do seu ser, tanto da alma como do corpo, estaria assegurada, neste último caso com consequências imediatas. E tudo isto, ó sorte mofina, sem um cão para lhe enxugar as lágrimas quando o grande momento chegasse. Ainda pensou em voltar para trás, pedir abrigo na aldeia até que o banco de nevoeiro se desfizesse por si mesmo, mas, perdido o sentido de orientação, confundidos os pontos cardeais como se estivesse num qualquer espaço exterior de que nada soubesse, não achou melhor resposta que sentar-se outra vez no chão e esperar que o destino, a casualidade, a sorte, qualquer deles ou todos juntos, trouxessem os abnegados voluntários ao minúsculo palmo de terra em que se encontrava, como uma ilha no mar oceano, sem comunicações. Com mais propriedade, uma agulha em palheiro. Ao cabo de três minutos, dormia. Estranho animal é este bicho homem, tão capaz de tremendas insónias por causa de uma insignificância como de dormir à perna solta na véspera da batalha. Assim sucedeu. Ferrou no sono, e é de crer que ainda hoje estaria a dormir se salomão não tivesse soltado, de repente, em qualquer parte do nevoeiro, um barrito atroador cujos ecos deveriam ter chegado às distantes margens do ganges. Aturdido pelo brusco despertar, não conseguiu discernir em que direcção poderia estar o emissor sonoro que decidira salvá-lo de um enregelamento fatal, ou pior ainda, de ser devorado pelos lobos, porque isto é terra de lobos, e um homem sozinho e desarmado não tem salvação ante uma alcateia ou um simples exemplar da espécie. A segunda chamada de salomão foi mais potente ainda que a primeira, começou por uma espécie de gorgolejo surdo nos abismos da garganta, como um rufar de tambores, a que imediatamente se sucedeu o clangor sincopado que forma o grito deste animal. O homem já vai atravessando a bruma como um cavaleiro disparado à carga, de lança em riste, enquanto mentalmente implora, Outra vez, salomão, por favor, outra vez. E salomão fez-lhe a vontade, soltou novo barrito, menos forte, como de simples confirmação, porque o náufrago que era já deixara de o ser, já vem chegando, aqui está o carro da intendência da cavalaria, não se lhe podem distinguir os pormenores porque as coisas e as pessoas são como borrões indistintos, outra ideia se nos ocorreu agora, bastante mais incómoda, suponhamos que este nevoeiro é dos que corroem as peles, a da gente, a dos cavalos, a do próprio elefante, apesar de grossa, que não há tigre que lhe meta o dente, os nevoeiros não são todos iguais, um dia se gritará gás, e ai de quem não levar na cabeça uma celada bem ajustada. A um soldado que passa, levando o cavalo pela reata, o náufrago pergunta-lhe se os voluntários já regressaram da missão de salvamento e resgate, e ele respondeu à interpelação com um olhar desconfiado, como se estivesse diante de um provocador, que havê-los já os havia em abundância no século dezasseis, basta consultar os arquivos da inquisição, e responde, secamente, Onde é que você foi buscar essas fantasias, aqui não houve nenhum pedido de voluntários, com um nevoeiro destes a única atitude sensata foi a que tomámos, manter-nos juntos até que ele decidisse por si mesmo levantar-se, aliás, pedir voluntários não é muito do estilo do comandante, em geral limita-se a apontar tu, tu e tu, vocês, em frente, marche, o comandante diz que, heróis, heróis, ou vamos sê-lo todos, ou ninguém. Para tornar mais clara a vontade de acabar a conversa, o soldado içou-se rapidamente para cima do cavalo, disse até logo e desapareceu no nevoeiro. Não ia satisfeito consigo mesmo. Tinha dado explicações que ninguém lhe havia pedido, feito comentários para que não estava autorizado. No entanto, tranquilizava-o o facto de que o homem, embora não parecesse ter o físico adequado, deveria pertencer, outra possibilidade não cabia, pelo menos, ao grupo daqueles que haviam sido contratados para ajudar a empurrar e puxar os carros de bois nos passos difíceis, gente de poucos falares e, em princípio, escassíssima imaginação. Em princípio, diga-se, porque ao homem perdido no nevoeiro imaginação foi o que pareceu não lhe ter faltado, haja vista a ligeireza com que tirou do nada, do não acontecido, os voluntários que deveriam ter ido salvá-lo. Felizmente para a sua credibilidade pública, o elefante é outra coisa. Grande, enorme, barrigudo, com uma voz de estarrecer os tímidos e uma tromba como não a tem nenhum outro animal da criação, o elefante nunca poderia ser produto de uma imaginação, por muito fértil e dada ao risco que fosse. O elefante, simplesmente, ou existiria, ou não existiria. É portanto hora de ir visitá-lo, hora de lhe agradecer a energia com que usou a salvadora trombeta que deus lhe deu, se este sítio fosse o vale de josafá teriam ressuscitado os mortos, mas sendo apenas o que é, um pedaço bruto de terra portuguesa afogado pela névoa onde alguém (quem) esteve a ponto de morrer de frio e abandono, diremos, para não perder de todo a trabalhosa comparação em que nos metemos, que há ressurreições tão bem administradas que chega a ser possível executá-las antes do passamento do próprio sujeito. Foi como se o elefante tivesse pensado, Aquele pobre diabo vai morrer, vou ressuscitá-lo. E aqui temos o pobre diabo desfazendo-se em agradecimentos, em juras de gratidão para toda a vida, até que o cornaca se decidiu a perguntar, Que foi que o elefante lhe fez para que você lhe esteja tão agradecido, Se não fosse ele, eu teria morrido de frio ou teria sido comido pelos lobos, E como conseguiu ele isso, se não saiu daqui desde que acordou, Não precisou de sair daqui, bastou-lhe soprar na sua trombeta, eu estava perdido no nevoeiro e foi a sua voz que me salvou, Se alguém pode falar das obras e feitos de salomão, sou eu, que para isso sou o seu cornaca, portanto não venha para cá com essa treta de ter ouvido um barrito, Um barrito, não, os barritos que estas orelhas que a terra há-de comer ouviram foram três. O cornaca pensou, Este fulano está doido varrido, variou-se-lhe a cabeça com a febre do nevoeiro, foi o mais certo, tem-se ouvido falar de casos assim, Depois, em voz alta, Para não estarmos aqui a discutir, barrito sim, barrito não, barrito talvez, pergunte você a esses homens que aí vêm se ouviram alguma coisa. Os homens, três vultos cujos difusos contornos pareciam oscilar e tremer a cada passo, davam imediata vontade de perguntar, Onde é que vocês querem ir com semelhante tempo. Sabemos que não era esta a pergunta que o maníaco dos barritos lhes fazia neste momento e sabemos a resposta que lhe estavam a dar. Também não sabemos se algumas destas coisas estão relacionadas umas com as outras, e quais, e como. O certo é que o sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas. Os três homens já não estão aqui. O cornaca abre a boca para falar, mas torna a fechá-la. O maníaco dos barritos começou a perder consistência e volume, a encolher-se, tornou-se meio redondo, transparente como uma bola de sabão, se é que os péssimos sabões que se fabricam neste tempo são capazes de formar aquele maravilhas cristalinas que alguém teve o génio de inventar, e de repente desapareceu da vista. Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof.