domingo, 19 de outubro de 2008

Zabé da Loca --- Bom todo (2008)


Depois de muito procurar achei um link para o álbum "Bom todo" de Zabé da Loca que se apresentou na MIMO - Mostra Internacional de Música de Olinda - desse ano.
Ela e Carlos Malta (Pife Muderno) são as razões da minha paixão pelo pífano pós-MIMO.



Sobre Zabé, transcrevo o release fornecido pela gravadora e postado no site do Instituto da Memória Musical Brasileira que também vale a pena conferir.

BOM TODO(2008)
Crioula Records CR 001
Artista(s):Zabé da Loca
Esteve durante 25 anos em uma caverna um dos segredos mais bem guardados da música popular brasileira. Quantos artistas já não quiseram começar assim um texto biográfico? Muitos, certamente. Mas sejamos francos: pouquíssimos foram os que conseguiram fazer justiça a essa imagem. Ainda mais quando a tal caverna não é, nem de longe, o que poderíamos chamar de “figura de linguagem”. Pois ela não só existe como é apenas mais uma das incríveis histórias reais dos 83 anos da vida de Isabel Marques da Silva, a Zabé da Loca. Mas antes que o distinto cidadão faça o essencial – que é remover a embalagem de plástico e botar esse Bom Todo para tocar – carece explicar alguns fatos. Desde os sete anos de idade, Zabé é tocadora de pífano, uma rudimentar flauta feita inicialmente de bambu (e mais tarde de cano de PVC ou metal), tradicional do Nordeste brasileiro. Infância e juventude, a artista passou trabalhando no campo e fazendo música na cidade de Buíque, agreste de Pernambuco. Casada, mudou-se para o interior da Paraíba, teve três filhos e, em 1966, ficou viúva e viu sua casa literalmente ruir. A única alternativa foi mudar-se com a família para uma gruta (uma loca, na linguagem da região), cuja entrada ela tapou com paredes de taipa e onde passou o seguinte quarto de século. Surgiam ali o apelido e as condições que talhariam a sua música. Do pife, Zabé da Loca extraiu o som do seu universo paralelo.
Descoberta pela mídia em 1995, a artista saiu da caverna – mas a caverna não saiu dela. Bom Todo (frase que, por sinal, é uma das poucas que Zabé normalmente profere – e só em grande estado de contentamento) é o sonhado registro de uma música que, em sua forma, remete aos mestres da Banda de Pífanos de Caruaru. Mas só ouvindo mesmo para acreditar no que está acontecendo. Pequenina, sempre com seu cigarrinho de fumo de rolo, Zabé da Loca gravou pela primeira vez nos anos 90. E só saiu do eixo Paraíba-Pernambuco em 2004, para participar, em Brasília, do projeto de shows Da Idade do Mundo, uma idéia da produtora Lu Araújo, ex-dona de uma loja de LPs independentes, hoje à frente da empresa Lume Arte. Lu já conhecia a pifanista de gravações e que, desde então, alimentava planos de dar a ela o disco que ela sempre mereceu.
Desse sonho, nasceu Bom Todo, que não por acaso é o lançamento inaugural da Crioula Records, selo da produtora, dedicado à sensacional música brasileira que ainda não encontra espaço no mercado. O projeto do disco foi contemplado pelo Programa Petrobras Cultural, a maior ação de patrocínio em cultura do país, da empresa que é uma das principais fomentadoras da música brasileira em seus diversos segmentos. Bom Todo começou a tomar forma quando, por sugestão de Lu, Zabé e seu grupo se encontraram em 2005 num estúdio em Recife com Carlos Malta, homem dos mil instrumentos de sopro, que tocou durante anos com o bruxo Hermeto Pascoal e que fundara um grupo só para tocar pífanos, o Pife Muderno. O acanhamento inicial (“Não sou musiqueira”, dizia a pifanista) logo deu lugar a uma rara sintonia musical e, em pouco mais de duas horas de estúdio, surgiram algumas das primeiras músicas do CD.

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