terça-feira, 14 de outubro de 2008

Um Baobá no Recife (João Cabral de Melo Neto)



Recife. Campo das Princesas.
Lá tropecei com um Baobá,
crescido em frente das janelas
do Governadorque sempre há.

Aqui mais feliz
pode ter úmidos
que ignora o Sahel.
Dá-se em copudas folhas verdes
que dão as nossas sombras de mel
Faz de jaqueiras, cajazeiras
Se preciso, catedral
Faz de mangueiras, faz da sombra
que adoça o nosso litoral

Na parte nobre do Recife
onde o seu rebento pegou
Vive, ignorado do Recife,
de quem vai ver governador.

Destes, nenhum pensou (se o viu)
que na África ele é cemitério.
Se no tronco desse Baobá
enterrasse os poetas de perto,
criaria ao alcance do ouvido
senado sem voto e discreto
Onde o sim valesse o silêncio
e o não…sussurrar de ossos secos.

Nenhum comentário: