terça-feira, 10 de junho de 2008

Meio 2008 já foi. E aí? ou Minha vida = um promissor poema não escrito


Depois de 3 meses me sentindo meio que em casa, começo a me ver completamente estrangeira in Ricifi. Talvez, esteja constatando-me estrangeira "em si", de mim mesma.
Deparei-me com esse vídeo "My proletary life: mind the gap" da Mostra Catálogo 2ptos de Lourival Batista. Artista pernambucano que está morando (e ralando) em Londres.
Diante do seu sentimento de emigrante, vejo o meu espelhado (com todas as devidas proporções do mundo, embora essa seja uma ressalva dispensável, pois é "só" sentimento).
O mais curioso é que só começo a me dar conta disso, quando as coisas começam a perder a "novidade": já não passo por tantas ruas novas, já não falo com tantas pessoas com as quais nunca havia falado, enfim, aconchego-me novamente na normalidade.
Como pode, logo agora, sentir-me estrangeira [novamente!!! será?]?
O que procuro no novo que não acho no estabelecido, já que sou eu mesma que estabeleço?
Quantos dos meus planos e sonhos para esse ano ainda estão a milhas e milhas de séculos de serem realizados?
Outro dia enquanto ia para o CCJ, provavelmente em um Setúbal/Boa Vista, fiz um poema - na verdade, ele que se fez. Eu em pé, sacolejando, e o poema se fazendo por toda Conselheiro. Divertimento. De repente, outro poema sobre ter feito um poema naquela conjuntura começou a se fazer. Nessa altura, eu já tinha passado da ponte pelo Capiba - sol fraquinho, refletindo dourado-sujo nas águas; tinha até isso no tal poema - chegando no Forte 5 pontas. Quando cheguei no Recife Antigo, me dei conta: como vou lembrar dos dois? E mais, sei que quando saltar no mesmo ponto de sempre, vou caminhar meus mesmos passos de todos os dias, subir os dois lances de escada e não vou sentar pegar um papel e concretizar nele os poemas revelados. E eles iriam, durante o resto do dia, se desmanchar, descorar, até eu pensar que "não, não vale a pena escrevê-los".
Dito e certo!
Quantas poesias já fiz e nunca escrevi. Quantas escrevi e nunca mostrei. Nunca declamei nenhuma (nem minha, nem de ninguém). Minha mudez que disfarço de silêncio.
Minha vida como poema adiado; O que tem que ser escrito, deve ser escrito no agora, a vida pede urgência; não a urgência sádica e histérica do progresso da tal modernidade (ou pós, ou tardia, ou o diabo a quatro). A urgência do desejo, do sangue nas veias que não pode esperar um segundo que seja para correr, que não pode dizer "amanhã eu passo pela veia dos dedos das mãos que agora não dá".
Não sou poeta, não sou artista, não sou filósofa, não sou jurista. Minha vida e os poemas não escritos.
Agora, estou tentando escutar um pouco Foucault "Devemos criar prazeres novos, então pode ser que o desejo surja".
Já ia esquecendo, o vídeo eu achei no site "2ptos - Arte contemporânea em Pernambuco.

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