sexta-feira, 25 de abril de 2008

Outros diálogos com Maturana


Inquieta e, até, incomodada com algumas discussões no mestrado. Em minha percepção, estávamos nos dirigidindo para um entendimento de relativismo extremo. Uma frase que bastante me marcou, e que acho que sintetiza de certa forma a idéia base comum foi a de que sempre que se fala em moral, cada um toma seus próprios valores como os representantes e tradudores dessa Moral. Creio que esse pensamento reforça a fragmentação em que hoje estamos imersos, a falta de projetos, de esperanças, de utopias; a resignação num presente desprovido de sentido; como diria Boaventura (e que, acabo de descobrir, guarda muita semelhança com Ost), arrastados pelo apelo do progresso para um futuro indefinido e amorfo e sem ter fincado raízes no passado repleto de injustiças, abandonando aqueles que não acompanham o trem da história.

A leitura de Maturana proporcionou-me o esclarecimento de minhas dúvidas (no sentido de que elas ficaram mais claras, e não que eu tenha chegado soluções para elas). Ao tratar de teoria do conhecimento, de como se dá o conhecer, Maturana fala de uma forma ontológica transcendente de conhecer, é dizer, tomando por base critérios ontológicos trancedentes rígidos para distinguir a verdade da não-verdade, a realidade da não-realidade. Por outro lado, defende uma forma ontológica constitutiva de conhecer, ou seja, cada ser humano conhece a partir de sua experiência de viver, resultando numa pluralidade de realidades (em muitas verdades).

De sua conclusão ele tira um direcionamento ético: ao invés de explicações que se negam mutuamente, teríamos entendimentos de verdades que devem conviver de forma solidária e amorosa. Assim, Maturana também fragmenta a realidade, mas essa fragmentação não é amórfica como a que está implantada hoje, é uma fragmentação em forma de mosaico, é dizer, em seu conjunto, as partes formam figuras que expressam algo, que dão sentido.

É de Maturana também que tiro o esclarecimento do meu receio perante os posicionamentos fragmentários-amórficos: se todo saber está inexoravelmente ligado a um agir (e acredito nisso há muito), seja porque ao conhecer, o observador constitui seu objeto, seja porque o saber por ele adotado lhe servirá de fundamento para seu agir, aonde nos leva esses direcionamentos? A idéia de uma Academia asséptica, de uma pesquisa sem fins e sem fé vem me parecendo evidente e uníssona, e me questiono, será isso mesmo? Não sei até que ponto teimo em ser ingênua, mas para mim não se trata de mero título ou de páginas escritas a que se dá o nome de dissertação. Ao entrar no programa de pós graduação estou agindo no mundo e devo a mim e aos demais posicionamentos. Por certo que minha dissertação não acabará com a miséria ou injustiça da face da terra, mas ao menos o meu agir ela irá conduzir (ou melhor contribuir na condução).

Não fecho nada. Talvez esteja sendo meramente platônica e metafísica, sem conseguir me desvencilhar da tradição ontológica (como me parece é o caso do próprio Maturana, inclusive de forma explícita – “ontológico constitutivo). Questões, meramente.

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