sexta-feira, 18 de abril de 2008

Porque quando se conta uma história, tudo o mais faz sentido: guerras, política, alma.


A voz de une femme, uma palestina refugiada no Brasil. Um entre milhares afetados pela guerra no Iraque. Um entre milhões que sofrem as consequências das guerras, das ditas políticas externas, do desrespeito e da ignorância.
Lembrei-me do filme "Diamante de sangue" e seus campos de refugiados africanos. Lembrei do quão pouco sabemos e de quão absurda pode ser a estupidez.
26 anos, a vida interrompida, um país estranho, uma língua a desvendar, uma vida para reconstruir.
Seu relato em forma diário no site da revista Piauí http://www.revistapiaui.com.br/capa.aspx
Aqui, transcrevo algumas de suas palavras que mais marcaram...
"Por pouco, muito pouco mesmo, não me graduei em engenharia elétrica. Faltavam apenas dois meses para a conclusão do curso quando, constatando o fim do regime de Saddam Hussein, meu pai e meu irmão decidiram que a família deveria sair do Iraque. Deixamos para trás um apartamento de uns 100 metros quadrados que alugávamos perto do rio Tigre, no centro de Bagdá. Abandonamos também todos os nossos móveis e eletrodomésticos, um Fiat bege de 1974, a fábrica de botões de meu pai e um estilo de vida de classe média".

"Foi num dia 17 também, em abril de 2003, que aprendi minha primeira lição do acampamento: como lavar panelas só com água e areia. Para quem está acostumado com esponja e sabão é estranho, mas juro que fica limpinho! O ruim é que, nas primeiras vezes que você recorre a esse artifício, a mão sangra. Sangra muito".

"O Brasil, ao contrário de outras nações hospedeiras, foi o único país a não selecionar, entre a massa de refugiados, aqueles que poderiam ser “bem aproveitados” – como cientistas ou médicos. O Brasil nos aceitou sem qualquer análise prévia de perfil, e sou-lhe muito grata".

"Existe um provérbio árabe que diz: “Se teu amigo é feito de mel, não o lamba todo.” E assim foi. Não abusamos, mas a ajuda moral que recebemos deles nos fez sentir que nunca estivemos sós".

"No trem de volta para casa eu estava sentada ao lado de uma senhora, com o meu pai no assento da frente. Eu e ele conversávamos em árabe e a senhora perguntou: “Que língua vocês estão falando?” Respondi que era árabe e ela não entendeu. Acho que ela não fazia nem idéia da existência dos árabes, e muito menos da pátria árabe! Igual a essa senhora encontrei várias pessoas! É incrível. Quando estudei geografia na escola, sabíamos o que era o Brasil, famoso pelo café. Lembro direitinho do mapa do Brasil. Estranho as pessoas aqui não conhecerem o mundo árabe".

"Até receber a proposta de vir para cá, as únicas coisas que já tinha ouvido falar sobre o Brasil eram Pelé, samba, café e frango da Sadia. Foi na embalagem dos frangos – um sucesso na Jordânia – que li as primeiras palavras em português".

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